A paixão faz das pedras inertes um drama. (XXXI)
O arquiteto, ordenando formas, realiza uma ordem que é pura criação do seu espírito;
pelas formas, afeta inensamente nossos sentidos, provocando emoções plásticas;
pelas relações que cira, desperta em nós ressonâncias profundas,
nos dá a medida de uma ordem que sentimos acordar com a ordem do mundo,
determina movimentos diversos de nosso espírito e de nossos sentimentos;
sentimos então a beleza. (3)
É que a arquitetura, que é coisa de emoção plástica, deve, no seu domínio, começar pelo começo e também empregar os elementos suscetíveis de atingir nossos sentidos, de satisfazer nossos desejos visuais, e dispô-los de tal maneira que sua visão nos afete claramente pela delicadez ou pela brutalidade, pelo tumulto ou pela serenidade, pela indiferença ou pelo interesse; estes elementos são elementos plásticos, formas que nossos olhos vêem claramente, que nosso espírito mede.
Essas formas primárias ou sutis, brandas ou toscas, agem fisiologicamente sobre nossos sentidos
(esfera, cubo, cilindro, horizontal, vertical, oblíqua etc.)
e os comovem.
Sendo afetados, somos suscetíveis de perceber além das sensações grosseiras; nascerão então certas relações, que agem sobre nossa consciência e nos conduzem a um estado de júbilo (concordância com as leis do universo que nos dirigem e às quais todos os nossos atos se submetem) em que o homem usa plenamente de seus dons de lembrança,de exame, de raciocínio, de criação. (7)
Para o arquiteto, escrevemos os "três lembretes":
O VOLUME que é o elemento pelo qual nossos sentidos percebem e medem, sendo plenamente afetados.
A SUPERFÍCIE que é o envelope do volume e que pode anular ou ampliar a sua sensação.
A PLANTA que é a geradora do volume e da superfície e que é aquilo pelo qual tudo é determinado irrevogavelmente. (9)
A Arquitetura é um fato da arte, um fenômeno da emoção, fora das questões da construção, além delas. A construção É PARA SUSTENTAR; A ARQUITETURA É PARA EMOCIONAR. A emoção arquitetural, existe quando a obra soa em você ao diapasão de um universo cujas leis sofremos, reconhecemos e adminiramos. (10)
Arquitetura consiste em "relações", é "pura criação do espírito". (10)
A Arquitetura é a primeira manifestação do homem criando seu universo, criando-o à imagem da natureza, aceitando as leis da natureza, as leis que regem nossa natureza, nosso universo. As leis de gravidade, de estática, de dinâmica se impões pela redução ao absurdo: ficar de pé ou desmoronar-se. (45)
em
Por Uma Arquitetura - 1958