quarta-feira, 8 de julho de 2015

Londres e a mobilidade urbana sustentável




O Departamento de Transporte para Londres (TfL) lançou um plano de ação até 2021 que, até o momento, é considerado o único do tipo no mundo. A iniciativa apresenta 10 medidas e parte da premissa de que as ruas, o meio-ambiente e o transporte influenciam no bem-estar dos habitantes, assim, as melhorias realizadas nestes têm a capacidade de melhorar a saúde da população e, portanto, sua qualidade de vida. 
Por envolver áreas de impacto na vida urbana, como o transporte e a saúde, o plano foi recentemente selecionado pela Associação Internacional de Transporte Público (UITP)  como um dos melhores projetos do ano na categoria Estratégia de Transporte Público. 
Em duas de cada três viagens realizadas em transporte público em Londres, a pessoa caminha cerca de cinco minutos, segundo TfL. Assim, uma pessoa adulta pode fazer grande parte da atividade física que necessita em seu translado diário, e o transporte público cumpre com uma das suas maiores funções para a saúde, que é manter os cidadãos fisicamente ativos.
Contudo, para que estas caminhadas se tornem muito mais agradáveis, a capital britânica iniciou um investimento de 4 bilhões de libras esterlinas que procura converter estes lugares em espaços públicos mais atrativos, seguros e verdes para que os pedestres e ciclistas os integrem em seus cotidianos.
Deste modo, pretende-se melhorar a experiência e fazer com que o transporte público continue cumprindo uma das suas funções mais importantes, que é garantir o acesso aos espaços de educação, entretenimento, serviços, aumentando, assim, o bem-estar da população.
No documento oficial do plano estão detalhadas as medidas estratégicas que abordam os impactos do transporte, tanto público quanto privado, na saúde dos londrinos. 
Hoje, 38% do dia dos habitantes é gasto em deslocamentos em automóveis (privados e táxis), portanto, uma das metas do plano é desincentivar o uso destes, baixando a cifra para 6%. Para isto, as ações focam em melhorar os espaços públicos com o objetivo de fomentar os deslocamentos sustentáveis, isto é, a pé e em bicicleta. 
As políticas para melhorar a saúde através do transporte também são detalhadas no documento. Para isto se considera, entre outros objetivos, melhorar a segurança dos habitantes para que se sintam confortáveis ao se deslocarem pelas ruas, seja caminhando ou em bicicleta, e possam, então, adotar e manter este modo de deslocamento nas suas rotinas diárias. 
Outro objetivo é melhorar as oportunidades de transporte, ou seja, ser acessível para pessoas de todas as idades e condições físicas. Um terceiro objetivo consiste em garantir o bem-estar da saúde pública através da redução da sua contribuição à mudança climática. 
A falta de atividade física é uma das maiores ameaças para a saúde da população, podendo causar doenças cardíacas, câncer e outras crônicas, como diabetes e depressão. Por esta razão, o plano busca fomentar os deslocamentos sustentáveis em diferentes etapas da vida, já que se considera que uma pessoa de 80 anos pode obter o exercício que necessita diariamente em um deslocamento pela cidade e assim aumentar sua atividade psicológica em até 16%.
Além disso, leva-se em conta que com o ritmo atual que se vive na ruas e suas condições, deve-se reduzir os acidentes do trânsito, o ruído e a contaminação atmosférica. A proposta para este ponto consiste em construir ruas mais saudáveis, isto é, aquelas onde os deslocamentos permitem reduzir os efeitos negativos à saúde e são uma opção muito mais agradável para transitar a pé ou em bicicleta. 
Estas ruas foram vistas pelo Departamento de Rodovias de Londres (RTF) como uma opção que beneficia a economia local, o meio-ambiente e a sociedade.
Embora a implementação do plano seja em longo prazo, ele também conta com medidas de curto prazo, das quais algumas já estão sendo aplicadas, como a construção de mais ciclovias e do projeto Crossrail Bikes. Esta proposta foi aprovada em fevereiro e prevê a construção de duas ciclovias de 24 quilômetros de extensão que unirão nove distritos e cruzarão o centro da cidade. 
Para conhecer mais detalhes deste plano, clique aqui.
Este artigo foi originalmente publicado em Plataforma Urbana.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Morte e vida das grandes cidades

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Autora do livro “Morte e vida das grandes cidades”, já na década de 60 escrevia sobre a cidade, realizando criticas sobre a cidade jardim de Ebenezer Howard e toda a lógica espacial da setorização. A setorização mono funcional mata a vida das cidades. JACOBS retrata a vida nas cidades de maneira simples e apreende aspectos importantes da cidade. Seja uma rua com recuo nas fachadas possibilitando as crianças brincarem sob a vigilância dos pais sobre a rua, ou ainda o uso do pano de vidro sobre as fachadas norte das edificações voltadas para praças para que elas recebam luz durante o dia e sejam apropriadas.
De certa maneira as ideias de JACOBS trazem de volta algumas ideias das cidades barrocas, dentre elas a ideia de que a cidade é usada por e para pessoas. As cidades devem ser caminháveis e por tanto ter curtas distâncias e múltiplas escolhas de trajeto, JACOBS estipula quarteirões de até 100 metros.
No entanto há dois fatores que hoje entram em cena, a ciclovia e a requalificação das vias. A ciclovia, juntamente com a presença de arborização e de mobiliário torna as caminhadas mais longas e agradáveis, transformando calçada não como um espaço de passagem, mas como lugar de permanência.
Outro ponto para a redefinição das cidades seria a de fomentar múltiplos usos numa mesma área e juntamente com isso, a alta densidade. Tais pontos criam fatores de atração seja pela multiplicidade de lugares e a possibilidade de não perder tempo com longos deslocamentos, seja pela presença de pessoas suficientemente alta para suprir a demanda de utilização. No entanto a alta densidade , quando não é dosada, é uma ação urbana ambígua, como uma faca de dois gumes.
Pois se por um lado há mais pessoas vivendo em um mesmo espaço e dividindo os encargos e impostos, além de minimizar o espraiamento e a tornando a cidade de gestão menos complexa, por outro lado há um acúmulo, uma concentração de pessoas e carros que sobrecarrega a capacidade de absorção da infraestrutura já instalada, desde tratamento do esgoto até o tráfego de veículos. Dependendo da densidade, a escala da paisagem urbana se saindo da escala do olhar humano e limitando o contato das pessoas com o espaço público.
E por ultimo, um ponto se refere a presença de tempos diversos num mesmo espaço. A cidade apresenta edificações de diferentes épocas que estão presentes e se relacionam no espaço físico próximo. Nesse ponto, a cidade é tratada como uma série de camadas de tempos e períodos históricos que se sobrepõe. De tal maneira que as edificações têm tempo hábil para gerar fatos e acontecimentos e gerem memorias coletivas, mas também memórias particulares. Evitando assim sucessivas transformações que trazem a questão do novo e moderno sem o devido reconhecimento das pessoas sobre o espaço construído. É aconselhável não somente preservar, mas reutilizar espaços antigos reabitando seus espaços sem com que se perda a essência de sua história.
Portanto todos os pontos aqui relatados estão interligados entre si e foram reformulados para o período de hoje, nas devidas proporções e sem perder a essência da análise que JACOBS realizou sobre a vida nas cidades.