A família nuclear não é,
por si mesma,
uma forma social viável.
Em seu último livro Island, Aldous Huxley oferecia uma amável versão dessa perspectiva:
-
quantos lares tem uma criança insulana ?
- uns vinte, em média.
- Vinte ? Meu Deus !
- Todos nós pertencemos – explicou Susila – a um MAC, um clube de adoções mútuas. Mutual Adoption Club. Cada MAC tem entre 15 e 25 pares de relações familiares diversificadas, mas bem identificadas. Há noivos e noivas recém-compromissados, há a classe dos veteranos que possuem filhos, avós e bisavós... todo mundo adota um ao outro. Além de nossos parentes consangüíneos, todos temos uma cota de mães adotivas, de pais adotivos, de tias e tios adotivos, de irmãos e irmãs adotivas, de pais adotivos, de filhos bebês que começam a andar em nossa volta, de filhos adolescentes a conversar conosco.
Ele balançou a cabeça.
- Desse modo, há aqui uma vinte famílias onde antes havia apenas uma...
- Bem, o quehavia antes era o vosso tipo de família – e encena uma leitura de um livro de receitas – tome-se um escravo, mas assalariado, sexualmente inepto, com uma mulher insatisfeita, e ainda dois ou, se preferir, três filhos viciados por televisão; misture com o tempero de um freudianismo e de um cristianismo algo diluídos; tampe com força em um apartamento de quatro cômodos, e deixe tudo isso à sua própria sorte por uns quinze anos. Bem, por outro lado, a nossa receita é bem diferente: tome vinte pares sexualmente satisfeitos, e sua descendência; junte ciência, intuição e humor em quantidades iguais; ponha um suculento molho de budismo tântrico, e cozinhe indefinidamente, em fogo baixo, sem pressa, numa panela aberta ao ar livre, sobre uma chama viva de afeto.
- E o que o que sai da panela ? – ele perguntou.
- Um tipo inteiramente novo de família. Nada em exclusividade, como nas vossas famílias, nada predestinado, nada coercitivo. Uma família inclusiva, sem
obrigatoriedades, voluntária. Vinte pares de pais e mães, mais uns oito ex-pais e ex-mães, mais umas quarenta ou cinqüenta crianças, de todas as idades.
(Aldous Huxley,
Island, Bantam, Nova Iorque, 1962, pp. 89-90).
APRESENTAÇÃO: ESTAS NOTAS DE AULA COMPÕEM UM BLOCO DE TEXTOS DA AUTORIA DE CHRISTOPHER ALEXANDER E SUA EQUIPE, NA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY. TODOS ESSES TEXTOS FORAM RETIRADOS DO IMPORTANTE LIVRO "LINGUAGEM DE PADRÕES", E SE ARTICULAM COMO "ESPECIFICAÇÕES PARA UM PROJETO DE COMUNIDADE".
Referência: Christopher Alexander (1977) – A Pattern Language. Towns. Buildings. Construction. Nova York: Oxford University Press.
Tradução: Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto.
NOTAS DE AULA DA DISCIPLINA PROJETO ARQUITETÔNICO 3 – HABITAÇÃO – AGOSTO DE 2004 PROF. FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO
Texto: HABITAÇÃO, Christopher Alexander