quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Centro de São Paulo começa a receber novos pisos de concreto autolimpantes




A Prefeitura de São Paulo deu início nesta semana às obras de reforma do calçadão da Rua Sete de Abril, na República, que ganhará 3.120 m² de novo piso em blocos de concreto com superfície autolimpante. Os serviços orçados em R$ 2,1 milhões integram o plano de revitalização da região Central da cidade, que prevê a substituição de 60 mil m² de calçadas.
O novo material foi desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). A tecnologia possui propriedades que são ativadas por meio da luz solar, retirando manchas e odores e permitindo a conservação dos blocos. Qualquer matéria orgânica que cai ou que penetre no bloco ao longo de um ou dois meses é vaporizada. Segundo a ABCP, a reação com matéria orgânica é obtida por um tratamento à base de dióxido de titânio na última camada do piso.
Os novos pisos também são mais resistentes, suportando grande quantidade de peso sem a formação de cicatrizes. A estimativa da entidade é de que o material não demande manutenção por pelo menos 30 anos e, em caso de perfuração, será possível retirar os blocos sem quebrá-los e depois implantá-los novamente.
O projeto também prevê a substituição das tampas do sistema de esgoto, que têm formato redondo, por tampas de concreto com requadro de ferro fundido e travas anti-vandalismo.
A previsão é de que as obras na rua escolhida para o projeto piloto sejam concluídas em abril de 2016.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Hotel Sandibe Okavango Safari


Um hotel de luxo com 24 dormitórios no coração de Okavango Delta, Botswana. Okavango Delta é considerado uma das sete maravilhas naturais do continente africano. A casa de campo original foi construída há 17 anos e já é declarada patrimônio da humanidade. Em consequência disso, uma série de apropriadas restrições formidáveis foram impostas durante a construção.

© Dook

O desenho de Sandibe não somente cumpre com estes requisitos, mas também valoriza e se inspira neles. Este lugar é um manifesto de todas as criaturas que nunca encontraram um lugar para refugiar-se embaixo das árvores centenárias do local. A inspiração vem dos animais que carregam seus refúgios com eles e os tecem a mão através de materiais orgânicos. Escolhemos o pangolim - espécie de tatu africano - como um motivo específico devido ao seu caráter tímido, evasivo e completamente inofensivo e sua capacidade de esconder-se na sua própria carapaça protetora de escamas. A última edificação parece ter crescido organicamente do terreno ribeirinho, ou metaforicamente falando, para ser uma criatura endêmica, gentil e maternal levando-a para fora através do bosque pantanoso.

Planta Baixa


Apesar das certificações LEED ou GREENSTAR não terem sido aplicadas nesta obra, o projeto admitiu que, no caso de sua aplicação, os padrões mais altos de reconhecimento seriam buscados. Os imperativos de sustentabilidade do projeto foram:


- Os novos edifícios tiveram que ser inteiramente construídos com materiais bio-degradáveis;
- O local, separado da civilização por pântanos e rios, teve de ser completamente limpo de todo o material anterior não degradável - literalmente centenas de toneladas de tijolos e argamassa removidos cuidadosamente por caminhões fora do delta;
- 70% da casa de campo de luxo necessitava de energia sustentável implicando no mínimo de impacto possível em relação ao local, fauna e flora;
- Um tratamento completo de esgoto e eliminação de resíduos.

Corte

Além de tudo, o cliente esperava um hotel que oferecesse os mais altos padrões de luxo aos seus hóspedes. Basicamente, isto significa, além de um desenho único e inspirador, um compromisso com a energia, abundante abastecimento de água quente, banheiros de luxo e de preparação de alimentos, como os melhores hotéis do mundo.

© Dook

O projeto terminado cumpre ou excede todos os imperativos anteriores.
Sandibe está construído quase em sua totalidade de madeira. As vigas de pinos laminado conferem a forma curvilínea. A pele do edifício é formada como um barco invertido a partir de camadas de tábuas de pinos impermeabilizado com uma membrana de acrílico e coberto por telhas de cedro canadense. A biblioteca possui 'envidraçamento' - uma membrana permeável mas altamente resistente a intempérie e termicamente eficiente.

© Dook

As paredes externas de telas e grades são formadas a partir de lâminas de eucalipto conectadas por um arame rígido. As coberturas e os pisos foram feitos de madeiras aprovadas pelo FSC (Conselho de Gestão Florestal). A potência é obtida através de um gerador fotovoltaico de 100 KVA, que necessitam de uma duração de 3 a 4 horas do dia. A água quente está disponível inclusive para a cabana mais afastada, a partir de um painel solar apoiado por bombas de calor que continuamente bombeiam a água através de um duto principal de 2,5 km. Apesar da distância, a perda média de temperatura entre a fonte e a torneira mais distante é de apenas 1,7 graus.

Planta Baixa

Toda a água, o solo e resíduos são coletados através de um tratamento biológico de efluentes que é comprovadamente seguro para descarga no meio ambiente. Finalmente, o sucesso ambiental do projeto é talvez melhor julgado a partir do fato de que a vida selvagem prolífica da área, incluindo grandes animais como elefante, hipopótamo, leão e leopardo continuaram vivendo e usando o local como se a edificação não existisse. Eles simplesmente não o veem. Como IM Pei disse: "A boa arquitetura permite que a natureza entre."

© Dook

Fonte:
"Hotel Sandibe Okavango Safari / Nicholas Plewman Architects in Association with Michaelis Boyd Associates" [Sandibe Okavango Safari Lodge / Nicholas Plewman Architects in Association with Michaelis Boyd Associates] 02 Set 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Camilla Sbeghen) Acessado 3 Set 2015. <http://www.archdaily.com.br/br/772722/sandibe-okavango-safari-lodge-nicholas-plewman-architects-in-association-with-michaelis-boyd-associates>

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Louis Sullivan



Louis Sullivan, o "Pai dos Arranha-céus" de Chicago antecedeu o modernismo com a célebre frase "a forma segue a função". 
Sullivan foi um prodígio da arquitetura, tendo iniciado seus estudos de graduação no MIT aos 16 anos. Um ano mais tarde deixou o MIT e aos 24 anos se juntou a Dankmar Adler como sócio do escritório Adler and Sullivan.



Sullivan é mais citado por sua influência em alguns arquitetos modernistas que o seguiram, incluindo seu protégé Frank Lloyd Wright. Embora seja conhecido pelo uso do ornamento, sua verdadeira inovação foi incorporar estilos ornamentais precedentes em novos edifícios em altura que surgiam no final do século XIX, utilizando o estes ornamentos para enfatizar a verticalidade de suas obras. É esse princípio que o levou a proclamar a famosa sentença "a forma segue a função", embora o próprio Sullivan desse os créditos dessa frase a Vitruvius.
Por suas inovações em edifícios em altura, Sullivan é frequentemente citado como parte da primeira "Escola de Chicago" de arquitetura, caracterizada por seus edifícios de estrutura metálica e fechamentos em alvenaria ornamentada. Dentre os edifícios pelos quais Sullivan é conhecido estão o Wainwright Building em Saint Louis, o Guaranty Building em Buffalo, e o  Carson Pirie Scott Building em Chicago.
Cita:Stott, Rory. "Em foco: Louis Sullivan" [Spotlight: Louis Sullivan] 03 Set 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo Baratto) Acessado 3 Set 2015. <http://www.archdaily.com.br/br/626678/em-foco-louis-sullivan>

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Cidade para Pedestres e Ciclistas

Não é novidade que as calçadas em São Paulo e no Brasil em geral são desconfortáveis e cheias de problemas. Ser pedestre em São Paulo é um pequeno desafio. E isso se percebe com ainda mais clareza depois de se acostumar por um tempo com calçadas bem projetadas e executadas. A Alemanha tem bastantes dessas.
A primeira coisa que você talvez perceba passeando por uma cidade alemã é a grande quantidade de calçadões e áreas só para pedestres (e bicicletas), especialmente nos centros históricos. Aliás, uma pequena observação antes de continuar: toda área exclusiva para pedestre é livre para bicicletas também, então sempre que eu disser pedestres pense pessoas e ciclistas.
É super comum que tenha um calçadão principal, bem grande, bem comprido, que também é a rua comercial mais importante da cidade. Em Dresden, é a Prager Straße, essa daqui:
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Dá para ir quase só em áreas exclusivas para pedestres da estação central até o norte da cidade, a Neustadt. Você vai pela Prager Straße, segue pelas ruazinhas que levam à igreja principal, a Frauenkirche, continua por um calçadão-terraço ao longo do rio, cruza uma ponte que pode ser que em breve seja exclusiva para pedestres também, e continua pela Haupstraße, uma simpática rua comercial super arborizada.
Área só para pedestres no entorno da Frauenkirche
Hauptstraße em Dresden
Hauptstraße em Dresden

Schildergasse em Colônia
Frankfurt
Mas não são só os calçadões que fazem das ruas alemãs especialmente confortáveis para pedestres (até porque calçadões no centro histórico também não são raros no Brasil). O desenho das calçadas é muito cuidadoso, e sua execução muito precisa.
As calçadas são frequentemente arborizadas por aqui. Uma maneira de fazer isso, quando a calçada não é suficientemente larga, é pegar o espaço de uma vaga de carro (a cada x metros) para plantar uma árvore. Como nos exemplos das fotos abaixo:
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No geral as ruas não são desenhadas tendo o carro como prioridade, mas sim o pedestre. Um outro exemplo disso são as esquinas. Quando é permitido estacionar na rua, com freqüência a esquina é alargada, tomando o espaço das vagas, para permitir maior visibilidade tanto para o pedestre quanto para o carro que vai fazer a conversão, e proporcionando ainda um espaço extra para o pedestre esperar antes de atravessar, sem ficar no caminho de quem está passando.
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Também não é raro que, em algumas ruas com pouco tráfego de automóveis, não haja desnível entre a rua e a calçada, de maneira que a rua é, de certa forma, uma extensão da calçada. É o carro que tem que dar a prioridade para os pedestres e ciclistas, claro.

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E quando eu falo da execução e do acabamento: são alguns detalhes aqui e ali na construção da rua e calçada que deixa tudo mais simpático e arrumado. Por exemplo, quando é possível estacionar em um dos lados da rua, freqüentemente a área para vagas tem um piso diferente, por exemplo um paralelepípedo, pra separar visualmente essa área do leito carroçável. Nos grandes calçadões, desenhos de piso com diferentes materiais criam essa organização e delimitação do espaço sem a necessidade de bloqueios físicos e visualmente indesejáveis. Quando o bloqueio físico é necessário – por exemplo para impedir que carros entrem em calçadões – ele é feito com elementos singelos e discretos, que não atrapalham o fluxo de pedestres, ou ainda com elementos que possam ter outros usos, como banco por exemplo.
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Desenhos de piso marcando diferentes espaços
Desenho de piso
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E às vezes são pequenos detalhes que mostram o cuidado com que esses espaços são pensados. Por exemplo nesse calçadão, como o material do piso muda em volta do mobiliário urbano, fazendo com que cada lata de lixo ou poste de luz se encaixe perfeitamente no espaço que ocupa. Mobiliário urbano é outra coisa a se elogiar também: bancos em calçadas e calçadões não são raros, e freqüentemente bem projetados. Até a maneira como a água pluvial é recolhida ao longo das ruas é feita cuidadosamente: grelhas discretas e bocas-de-lobo bem escondidas fazem o trabalho sem prejudicar visualmente o espaço.
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Drenagem de água pluvial
Drenagem de água pluvial
Mobiliário urbano em uma praça
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Além disso, não é raro que as calçadas e calçadões se misturem com áreas privadas dentro de lotes de edifícios diversos. Às vezes o uso público desse espaço privado é desejado e encorajado – quando por exemplo uma passagem é criada ligando duas ruas por dentro de um lote privado – às vezes indesejado e desencorajado. A grande diferença é que a separação no último caso não é feita com portões e muros hostis que tiram a permeabilidade visual dos espaços públicos mas com pequenos elementos que já avisam ao passante que aquele espaço é menos aberto – embora não completamente fechado – que o espaço público. Vegetação, desnível ou uma entrada estreita são alguns desses elementos.
Passagem aberta por dentro de lotes privados conectando duas ruas. Com restaurantes e lojinhas.
Essa área é aberta mas é claramente marcada como privativa pela diferença de piso que desencoraja o transeunte a entrar.
E como já descrevi nos posts sobre bicicletas, as ruas alemãs são desenhadas para caber todo mundo – o pedestre, a bicicleta, a cadeira de rodas, o transporte público, a árvore e, quando sobra um espacinho, o carro também. Eu nunca tentei cruzar a cidade numa cadeira de rodas, mas suspeito que não seja muito difícil – não é totalmente incomum ver pessoas em cadeiras de roda sem acompanhantes por aí, e quem como eu anda quase sempre de bicicleta também logo percebe como são incomuns calçadas sem rebaixamento na esquina. Eu posso contar nos dedos as de Dresden, são tão raras que sei exatamente onde estão.
Área rebaixada para cadeira de rodas.
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Texto e fotos: Laís Flores
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Laís Flores é arquiteta e urbanista e escreve sobre a experiência de viver na Alemanha no blog Manha de Alemanha. O texto sobre as calçadas foi publicado em 29/08/2015.