sábado, 29 de agosto de 2015

Holanda




Arquitetura & urbanidade
Frederico de Holanda
em
Arquitetura e Urbanidade - 2013


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Arquitetos um dia pensaram que do lápis brotaria uma nova sociedade. Nos anos 1970 o sonho acabou. A descoberta do equívoco golpeou pesadamente a teoria da arquitetura. Passado o choque, há que recuperar o tempo perdido: a arquitetura não cria por si só uma nova sociedade, mas afeta nossos modos de convívio.
Arquitetura & Urbanidade aborda reações entre o espaço e o comportamento. Revela atributos arquitetônicos adequados à qualidade de cortês, afável, à negação continuada ente interesses, à democracia. Demonstra-o em varias escalas: região metropolitana de Brasília, uma pequena cidade, um bairro, residências unifamiliares.

sobre o autor

Frederico de Holanda
Frederico de Holanda nasceu no Recife, Brasil (1944). Arquiteto (UFPE, 1966). Doutor em arquitetura (Universidade de Londres, 1997). Professor Associado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, onde ministra desde 1

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A questão "determinismo arquitetônico" está maldiscutida. Ignora-se que a arquitetura tenha implicações inerentes a aspectos de sua configuração e outras convencionais. Importa compreender as primeiras, pois projetamos a forma a ser construída, não as convenções pelas quais virá a ser utilizada. Na natureza contraditória do urbanismo moderno, a sintaxe das cidades - seu sistema de barreiras e permeabilidades - é a dimensão mais problemática. Relaciona-se com a desertificação e o vandalismo nos espaços públicos. (19)

Um conceito de Arquitetura

Sugerimos que se entenda arquitetura como situação relacional entre padrões físico-espaciais e expectativas sociais de muitos tipos. Propusemos a taxonomia pela qual (independentemente da escala) o espaço arquitetônico tem sete desempenhos para nossas expectativas, analisáveis em aspectos ou dimensões constituintes da arquitetura:
a) funcionais
b) de copresença
c) bioclimáticos
d) econômicos
e) topoceptivos
f) emocionais
g) simbólicos
(20)

Avaliar in totum a manifestação arquitetônica requer consideramos todas as dimensões: é comum o edifício ou a cidade ter mau desempenho "bioclimático" (e.g. desconforto térmico), mas gerar forte imagem em nossas memórias - bom desempenho "topoceptivo". (21)

A arquitetura moderna brasileira é portadora de forte identidade plástica? Esqueça-o. "Nada mais era do que a aplicação fiel das lições modernas num contexto social diverso do original." (Citações extraídas de Otília Arantes, Do Universalismo moderno ao regionalismo pós-crítico)
(21)

Com rara sensibilidade, Hobsbawn tocou no polêmico "determinismo arquitetônico", que arquitetura e urbanismo não comandam vontades, mas que a organização espacial das cidades funciona como variável independente: os padrões espaciais de Paris não determinam insurreições, mas lugares onde barricadas foram levantadas. (22)

Às barreiras e  às permeabilidades físicas sobre o chão (sintaxe) se superpões regras de utilização (semântica) que acrescentam significado simbólico à sintaxe do lugar e contribuem para constituir - produzir e reproduzir - padrões de interação social. O conjunto de permissões e restrições relativo às interações pessoais está "colado" à sintaxe e à semântica da arquitetura. Para Bourdieu, entre diversos artifícios culturais estes são elementos constituintes do habitatus, "padrão duradouro que é tanto o resultado como o ponto de partida de ações, um padrão que não  precisa ser conhecido reflexivamente, para que seja levado em conta nas práticas cotidianas." (Apud John Peponis "Espaço, cultura e desenho urbano no modernismo tardio e além dele") (24)


 Resumo Capítulo 1

A questão “determinismo arquitetônico” está maldiscutida. Ignora-se que a arquitetura tenha implicações inerentes a aspectos de sua configuração e outras convencionais. Importa compreender as primeiras, pois projetamos a forma a ser construída, não as convenções pelas quais virá a ser utilizada. Na natureza contraditória do urbanismo moderno, a sintaxe das cidades - seu sistema de barreiras e permeabilidades - é a dimensão mais problemática. Relaciona-se à desertificação e ao vandalismo nos espaços públicos (3).


Resumo CAPÍTULO 2 

UMA PONTE PARA A URBANIDADE Frederico de Holanda Resumo Exploram-se neste capítulo procedimentos analíticos quantitativos para caracterizar atributos morfológicos de Brasília: 1) o Plano Piloto não é central em relação ao sistema urbano-mor a que pertence; e nasceu excêntrico, contrariando o memorial do projeto de Lúcio Costa; 2) é sistema disperso, caracterizado por meio de duas medidas de compacidade; 3) há intensa segregação socioespacial marcada por débeis correlações entre localização de empregos, habitações e acessibilidade física; não só a maior parte de postos de trabalho é excêntrica (acima de 70% estão no Plano Piloto), como a grande maioria dos moradores agrupa-se em locais mais segregados. Conclui-se especulando medidas que implicariam maior urbanidade para Brasília.  


Crítica sobre a Brasília atual ou projeto deve reconhecer-lhe a significância. Dos projeots do concuros é o melhor. É cidade exemplar: como marco indelével do século XX poruqe Lucio Costa aplicou de modo próprio o receituário modernista (transgredindo-o em alguns pontos: por sabiamente incorporar importantes elementos históricos: perspectivas barrocas, terraplenos monumentais, gregarismo colonial brasileiro, acrópole cerimonial, cidade linear, cidade-jardim, urbanidade de áreas comerciais. A cidade pós moderna avant la lettre, distinda de todas as manifestações urbanísticas modernas. Nisto reside sua força. (40) 

Resumo CAPÍTULO 3

Áreas da cidade podem conhecer uma “época de ouro”, para entrar depois em decadência. Este trabalho investiga as razões da deterioração da Via W-3, Brasília. Era verdadeiro centro comercial e cultural nos primeiros anos da construção da capital brasileira; parte das funções a conferir tão importante status paulatinamente abandonaram o lugar. Revelar a lógica do trajeto faculta entender processos de transformação de nossas cidades, e características necessárias à sustentabilidade de espaços urbanos vitais. Razões para o declínio parecem ser: 1) demora na constituição dos setores centrais da cidade; 2) novas maneiras de configuração do espaço comercial, pelas quais atividades tendem a se concentrar intramuros (nos shoppings), abandonando configurações semelhantes à de ruas; 3) uso do solo da avenida, com somente um dos lados destinado a atividades centrais, o outro a residências; 4) configuração espacial da avenida, implicando descontinuidades no espaço construído e a existência de espaços “cegos” ou “mortos” entre os blocos; 5) ausência de infra-estrutura adequada para circulação de veículos e pedestres, incluindo a inadequação da distribuição de 2 vagas para estacionamento; 6) ausência de condições bioclimáticas adequadas. Este trabalho também ilustra uma metodologia de análise e proposição de desenho urbano. _____________________ (1) O conteúdo deste capítulo foi adaptado de proposta apresentada ao “Concurso público nacional de idéias e de estudos preliminares de arquitetura e urbanismo para revitalização das avenidas W-3 Sul e Norte, em Brasília, Distrito Federal”, em 2002, e premiada com a terceira colocação. Mais informações sobre o concurso estão no corpo do texto

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